Parece ter virado regra geral. Quando novas iniciativas, redes sociais ou plataformas web são inauguradas, fazem questão de exibirem, com todo orgulho, o sobrenome: versão beta. Foi assim com o joost, babelgum, orkut, etc. O interessante dessa história é que em muitos casos, o software evolui, amadurece, ganha escala, mas continua em módulo beta, em outras palavras: operando de maneira descompromissada. Se algo deu errado, a página não carregou, a transação não foi efetuada, a desculpa do eterno “soft opening” funciona como uma eficiente pomada. Somos menos severos com estreantes.
O lado bom é que essa postura transparente e humilde, que submete algo inacabado ao exigente julgamento popular se assemelha a outro sistema criado pela natureza: a vida. Repararam? Nós, seres humanos, enquanto vivos, estamos em um constante estado beta. Antes mesmo de andar ou falar, já estamos operando. E convidando outros a interagirem conosco. O convívio, cultura, amor, educação, ambiente e acesso ao repertório das pessoas próximas são assimiladas, por nós remixadas e novamente inauguradas. Mas com outro nome: personalidade. Nossa personalidade é colaborativa, isso ninguém pode negar. Por quê será que os valores da web 2.0, de repente, fizeram tanto sentido para um bocado de gente. Quando a criança fala errado, troca as letras, não dizemos que ela está com um bug. Ela está apenas aprendendo. Essa é a grande diferença entre plataformas 2.0 e 1.0.
Sistemas colaborativos, como nós, são eternos betas. Não possuem medo de errar, assumem suas falhas e crescem de maneira orgânica à medida que o ambiente e as pessoas moldam suas funcionalidades. Ninguém aceita o fato de você ser perfeito, certo? Claro, você está em versão beta até o dia que morrer! Nosso inconsciente captou essa constatação. Por quê arrogantes plataformas 1.0 são encaixotadas como soluções perfeitas, sendo que se quer tiveram acesso às maravilhas da imperfeição colaborativa? Por quê os bugs do windows nos matam de raiva, enquanto as páginas não carregadas do orkut e suas mensagens bem humoradas são encaradas com pesos diferentes? Um se propõe a ser perfeito, enquanto o outro é como você e ainda o chama para dividir a responsabilidade do sucesso. A Apple é uma empresa que busca a perfeição. Mas faz questão de usar as pessoas para isso e se permite errar. O novo Safari não veio com bugs, mas com metas a serem alcançadas. Essa foi a postura da empresa ao lançar a versão beta do seu browser.
Nas atuais regras de mercado, o produto já nasce com a obrigação de ser o mais gostoso, o melhor, o irresistível, o perfeito. Bom, em outras palavras, o coitado já nasce sem o direito de evoluir. Se assume sua imperfeição, determina sua ruína. Se não pode melhorar, simplesmente não melhora. Nós o impedimos. Vivemos em um mundo de perfeição ou de mentiras? Acredito que as próximas gerações não serão tão ditadoras. Bens de consumo também serão colaborativos e poderão evoluir naturalmente, sem terrorismo. Ciclos de vida de marcas e produtos devem ser revistos à medida que são remixados e reinventados. Você não acha que a Nike está em completo beta mode? Para muitos, a morte é o fim. Quem sabe é por onde nossa atual versão beta vira definitiva.
Ótima filosofada Payão !
Muito bom.
Pequena discordância na questão do Windows X Orkut.
Pôxa, o Windows é pago e essencial para o funcionamento do PC, já o Orkut, de graça, se não tiver no ar, não há o menor problema !
...mas, I see your point.
Abraço.
Posted by: Jones Bergh | 06/22/2007 at 16:30
Sinto-me em constante estado BETA...
por falar nisso...
http://www.corank.com/
abs
Posted by: Antonio Mafra | 06/22/2007 at 18:58